25.4.03 A pergunta que não quer calar Não falha. Sempre que comento que estou comprando um apartamento e pretendo morar sozinha muito em breve, alguém sempre abre o bocão para me encher de culpa: “Mas você vai deixar sua avó sozinha????”
Sim, eu moro com a minha avó, que me criou desde pequeninha. Na cabeça de quem não a conhece, ela é uma velhinha de cabelo branco toda indefesa, e eu, uma desalmada que vai largá-la ao Deus dará. E Ele sabe que a Baba está longe de ser isso, e sim uma mulher, idosa, claro, mas muito ativa e independente.
Daí, entro no modo defensivo e explico que pretendo morar pertinho dela, que ela passa tanto tempo preocupada comigo e com os horários que chego em casa que não dá mais para morarmos juntas – ela não dorme enquanto não chego em casa, e tanto profissionalmente quanto socialmente, isso significa alta madrugada várias vezes por semana. E tem outra coisa. Minha avó é a única família que tenho. Meus pais já morreram, meus tios e primos paternos estão na Iugoslávia, meu tio materno e primos moram no Nordeste. Alguns podem achar que isso é mais motivo ainda para ficarmos juntas, mas não sinto isso. Acho que preciso começar a viver minha vida, ter minha casa, não ficar nessa simbiose eterna. Uma hora iremos nos separar, é fato. Melhor que seja agora, sem traumas nem tristezas. Se a morte do meu pai me possibilitou isso, porque não? Só detesto ter que explicar isso toda santa vez.