29.3.04 Eu disse que ia roubar, ele deixou e tudo bem
Odeio textos otimistas, pra cima, escritos para fazer você acreditar que a pessoa, produto, evento ou fato em questão são legais, inovadores, perfeitos, bacanas, dignos de registro, último grito, badalado, imperdível.
Odeio textos que são publicidade disfarçada de textos. De barbeador, remédio ou ideologia.
Odeio textos que não dizem nada.
E até os textos que, como este, se propoem a odiar textos.
Odeio textos com fórmula, como os de redação para vestibular. Introdução, desenvolvimento e conclusão.
Odeio textos que evitam repetição de palavras
E até os textos minuciosamente analisados para não repetir nenhuma delas.
E odeio os textos pretensiosos, como este da raiva que meus dedos digitam e vira letra sem sentido na tela. Tão sem sentido quanto os textos todos que li hoje e os textos todos que sempre escrevi.
Odeio textos que emocionam
Odeio textos que transmitem uma grande lição sobre a vida
E também os que falam de amor, morte, doença ou cura.
Odeio textos clássicos publicados nos jornais de domingo
Odeio sílabas e estrofes calculadas de soneto
E sobretudo a rima.
Odeio até a merda do "x" no meio da palavra texto.
Odeio os meus, os seus
Odeio os de quem nem sabe escrever
os de quem vai ler na televisão
ou com o café do dia seguinte
Odeio textos com erros
De ortografia, concordância ou impressão
E odiaria ainda mais que este que escrevo
se eu colocasse algo errado ao lado da palavra "erro" na primeira linha deste parágrafo.
Criativos, engraçadinhos, dramáticos, chocantes
Odeio os textos que marcaram época
Odeio os que estão sendo redigidos neste exato momento
E odeio todos os textos ainda não escritos
Odeio a palavra em todas as suas formas.
E não usaria nenhuma delas aqui
Se houvesse outra maneira de falar
(e ser entendido)
que odeio as palavras e os textos.
O sentimento que todo mundo que paga as contas escrevendo já sentiu um dia, traduzido pela minha manicure-baladeira-coleguinha preferida.
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