15.4.04 Cesta básica Minha avó resolveu fazer um peeling, para tirar umas manchas que surgiram no seu rosto nos últimos anos. (Peeling, para os não-mulheres e não-metrossexuais, é tipo um ácido que passam para descamar a pele. Em tese, rejuvenesce horrores). Pois bem, o primeiro dermatologista que a atendeu, e a atendia há anos, se recusou a fazer o tal peeling. Disse que não valia a pena, ela era velha demais para se preocupar com essas coisas. Velha demais? Como assim? Ela tem 75 anos, nem que tivesse 99, 100, 250. Pode ser até que só a neta-coruja aqui ache a Baba tipo uma Gisele Bündchen da terceira idade, mas nem que ela fosse a Dona Arlinda, qual é.
A vaidade até pode ser pecado, mas como todo veneno, em doses pequenas é um santo remédio. Como ser feliz se o que aparece diante do espelho dá desgosto? Ou aprende-se a ser feliz do jeito que é, ou faz-se alguma coisa a respeito. Minha avó escolheu a segunda opção, e quem é aquele médico para dizer que ela não pode por ser velha demais?
E nem jovem demais. Uma vez, parada no farol da Groelândia com a Estados Unidos, uma menininha veio com o famoso "tia, tem um trocado?". Uma graça, toda dengosinha, seis, sete anos no máximo. E eu, do alto da minha consciência politicamente correta de "não podemos alimentar a indústria da mendicância", polidamente neguei. Eu estava de rabo-de-cavalo, preso com uma daquelas fivelas tlec-tlec. Ela olhou para a minha cabeça, abriu os olhões castanhos e perguntou "ah, tia, então dá a fivela?". Nossa, na hora tirei e coloquei na sua mãozinha aberta. E teria dado nem que fosse de ouro, feita pelo Antonio Bernardo. Ela prendeu os cachinhos com ela, e saiu, toda saltitante entre os carros, feliz da vida. Como se estivesse de barriga cheia.
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